terça-feira, 24 de março de 2020


O mensageiro

Vinha la do andar de cima cerceado por pessoas apressadas em tarefas que dependiam um salvamento. No meu espaço remédios ilustravam as paredes e vidros limitavam o contato com a enfermaria... Na farmácia hospitalar se desdobravam João e Andrea, os mais antigos funcionários na expedição de psicotrópicos daquele hospital.
Eu era o mensageiro , ingênuo , me assustava com a crueldade repentina e formal da abordagem da morte ao ir de encontro aos seus e então lhe sugar os últimos insignificantes suspiros de existência.
Quantas vezes adentrei as alas cirúrgicas e vi nascer um novo ser na madrugada de uma segunda feira... quantas todavia vi parir em dia de domingo que devia ser de calmaria. E na rejeição corporal de um organismo sucateado pela enfermidade.
Já vi caminhantes sem nome cruzar os corredores na calada da noite, já escutei sussurros de encontro ao meu próprio...
Quantas vezes, quantas horas, e se espera que chegue o raiar da aurora. Que venham os enfrentamentos do meio dia, e o depoimento de despedida que se consome na cantina de onde reunidas historias se entrecruzam as variáveis da vida.






Um comentário:

  1. É vida pura. Nada como entrar em choque com o que realmente importa.

    ResponderExcluir